Uma em um milhão – parte 1

Eu estava empolgadíssimo. Não apenas porque seria um dos primeiros eventos públicos após quase dois anos de pandemia e confinamentos, mas porque seria a primeira partida de Champions League que eu veria ao vivo, no estádio, após quase quarenta e tantos anos.

O jogo, Benfica x Dínamo de Kiev, nem era um jogão daqueles, era tipo um gringo empolgado para ver uma aprtida de Libertadores entre Olímpia do Paraguai versus Deportivo Táchira da Venezuela, mas quem se importava? Eu estava empolgadíssimo. Sabe quando a gente era criança e ia ter aquela excursão da escola ao Playcenter? Nesse n[ível de empolgadíssimo. Contando as horas para o jogo, já tinha repassado toda a documentação, para nada dar errado: passaporte ok, ingresso tá comigo, atestado de vacinação tá na mão, máscara duas só por garantia. Foi quando disseram:

“Ó mas agora precisa apresentar um teste negativo de Covid também, para poder entrar no estádio .”

“Cuméquié?” (esta é a expressão padrão de quando eu sei o que ouvi, só não quero acreditar no que ouvi). Um certo pânico começou a me invadir. “Jura? Mas não diz nada em lugar nenhum!” Não que eu não acreditasse, sabe como é, é mais aquele desespero de tentar se agarrar, inutilmente, numa esperança que é tão sólida quanto fumaça. Olhei o ingresso, entrei no site do Benfica, nada. “Tá vendo? Não diz nada!”

“É uma regra nova, baixaram a lei tem uns três dias. Sabe como é, essa variante nova supertransmissível e tal. Ômicron, né?”

O pânico terminou de se instalar. Onde raios eu podia fazer o exame? Ficava pronto a tempo? O jogo era dali a umas três horas! Pesquisei na internet e, com efeito, a regra era nova, aquele era o segundo jogo onde a exigência estava valendo, mas o site garantia que nos arredores do Estádio da Luz, o local do jogo e casa do Benfica, havia alguns locais montados especialmente para atender aos torcedores mais atrasados, como eu. Mas a informação era vaga, não apontava os endereços desses locais. O único mencionado pela reportagem, eu fui consultar, estava fechado naquele dia, pois era um feriado nacional em Portugal.

Munido apenas da esperança irracional que só um torcedor tem, saí correndo para o estádio, torcendo para, ao chegar no entorno, encontrar algum lugar aberto fazendo o teste, e cujo resultado saísse a tempo de ver a partida e que não custassse os olhos da cara.

(continua na parte 2)

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